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Página de desporto e saúde, que pretende dar uma análise global sobre performance desportiva (individual e coletiva), prevenção e reabilitação de lesões.
Nem o melhor guionista de Hollywood, se lembraria de uma história assim...
1) Final de época 2012/2013 - Leicester jogava contra o Watford para a subida de divisão e num minuto, tudo mudou! Vai ficar para a história este final de jogo.
2) Época 2013/2014 - Após um final dramático na época anterior, o Leicester (com um ano de atrasado) fica em primeiro lugar (com 102 pontos!) e finalmente chega à Premier League.
3) Época 2014/2015 - Considerado como um dos principais candidatos à descida, acabou por se aguentar e ficar a 6 pontos do último despromovido, fixando-se na 14ª posição.
4) Época 2015/2016 - Previa-se nova luta para se manter na Premier League, mas passado 24 jornadas... estão em primeiro lugar!!
Os fãs já cantam "We're top of the league" e parecem acreditar cada vez mais, que o sonho se pode concretizar.
Jamie Vardy, aos 29 anos, está também a ter uma época para mais tarde recordar e em 24 jogos, já conta com 18 golos.
Um dado curioso e que não deve ser menosprezado, refere-se ao número de lesões que a equipa tem. A equipa conta apenas com 2 jogadores indisponíveis e em alta competição, faz toda a diferença. Por exemplo, o Liverpool tem neste momento 7 atletas a recuperar de lesão.
Leicester City (lesionados)
- Jeffery Schlupp (lesão muscular hamstrings) e Matthew James (recuperação a lesão do ligamento cruzado anterior).
Liverpool (lesionados)
- Daniel Sturridge, Philippe Coutinho, Jordan Rossiter e Martin Skrtel (lesão muscular hamstrings)
- Joe Gomez e Danny Ings (lesão no ligamento cruzado anterior)
- Divock Origi (lesão no joelho, não especificada)
Não deixa de ser curioso, as lesões nos jogadores mencionados serem semelhantes. Recorda-se que hoje as 2 equipas se defrontaram e o Leicester venceu por 2-0, daí ser este o exemplo dado.
Será que o Leicester se vai conseguir aguentar e conseguir o título mais inesperado da história do futebol?
A adesão, partilha e aprendizagem sobre assuntos relacionados com desporto e saúde, são o foco desta página. A vossa colaboração é fundamental e nesse sentido, a Radiografia Desportiva hoje inicia uma nova crónica: "Resposta aos leitores".
Vai ser recordada a publicação feita no facebook da Radiografia Desportiva e que suscitou algumas questões por parte do leitor Bruno Ferreira.
Desporto vs Saúde
"Não é fácil ser atleta de alta competição. Mais ainda, quando todos perspectivam uma carreira de sucesso e aos 24 anos, há historial clínico de lesões graves. É o caso de Sergio Canales, médio da Real Sociedad, que voltou a ter uma rotura do ligamento cruzado anterior (desta vez no joelho esquerdo).
Palavras do atleta após saber o diagnóstico clínico: "Muito obrigado a todos, não há palavras para agradecer a força que me dão. Sempre foi um privilégio para mim jogar futebol e não vai ser agora que vai deixar de ser".
Força e boa recuperação!"
Questões:
1 - Quais os factores que levam a uma reincidência, de um atleta vigiado diariamente?
2 - Genética, preparação deficiente, ausência de reforço muscular ou prevenção de lesão? Ou simples "azar"?
1 - A avaliação clínica dos atletas de alta competição, tenta ser o máximo detalhada e tem como principal objetivo identificar potenciais focos de lesão e de doenças. Os resultados servem para desenvolver, junto com toda a equipa (treinador, médico, fisioterapeuta, entre outros) um trabalho de prevenção e tratamento de lesões. Os exames clínicos e avaliação através de exames complementares de diagnóstico, são muitos importantes para avaliar o estado da condição física dos atletas.
Há algumas medidas preventivas, tendo por base as lesões prévias de cada atleta. O reconhecimento atempado dos sintomas de lesão e a sua redução e/ou alteração da carga de treino, a reabilitação completa (estando implícito que o desportista apenas deve retomar a atividade desportiva no momento em que não tiver sintomas de dor, quando a sua amplitude de movimento estiver recuperada e se tiver recuperado a força muscular até um nível de, pelo menos, 90% da que tinha antes da lesão).
No entanto, o tecido reparado poderá não funcionar da mesma forma ou ser menos protector que o tecido original e provocar compensações no membro contralateral. Aqui, a importância de um bom ortopedista é fundamental!
A exigência do desporto de alta competição também não é propício a um período de espera elevado (pensa-se que é totalmente desajustado, atletas após uma ligamentoplastia estarem a jogar 4 ou 5 meses depois).
Durante todo o processo de recuperação, qualquer falha na reabilitação poderá comprometer o resultado final. O neo-ligamento pode até estar anatomicamente íntegro, mas ser funcionalmente ineficaz (Noronha, J., 2000, citado por Almeida, I. B., 2005).
2 - Há alguns estudos científicos que relatam que a lesão do ligamento cruzado anterior pode ter origem genética (sulco femural mais estreito, onde passam os ligamentos). De qualquer forma, é uma analogia sempre difícil de fazer e são necessários mais estudos científicos.
A cirurgia de reconstrução do ligamento cruzado anterior (normalmente) é feita através de enxerto de tecido conjuntivo do tendão patelar e sendo esse tecido mais resistente, é mais difícil uma nova rotura no joelho que passou pela cirurgia. De qualquer forma, é possível e caso haja compensações do joelho contrário, este torna-se mais vulnerável a lesão.
Por se tratar de um atleta de alta competição, inevitavelmente requer maiores exigências físicas e um treino adicional, pela necessidade de retomar a atividade competitiva no período mais curto possível, mas com a máxima segurança.
Todos os exercícios para prevenção de lesões devem ser feitos... para sempre! No membro operado e não operado.
Têm de existir objetivos para desenvolver a constituição muscular do atleta (aumento da produção de potência muscular) e linhas orientadoras do treino de força, tais como:
- seleção do exercício
- frequência do treino
- séries
- repetições
- resistência
- progressão da carga
- velocidade de execução
- amplitude dos exercícios
- respiração normalizada durante o exercício
(Kjaer, M. et al., 2003).
A maioria dos programas de treino neuromuscular incluem exercícios de equilíbrio, estabilidade dinâmica, exercícios pliométricos e exercícios específicos do desporto (incluindo o equilíbrio e salto) (von Porat, A., Henriksson, M., Holmström, E. & Roos, E. M., 2007).
Em relação à última pergunta "ou simples azar?"... é sempre difícil de responder. Certamente, que as equipas técnicas estão preparadas para este tipo de situações. Mas infelizmente, continuam a acontecer. A melhor forma de as minimizar, é continuar com programas de prevenção de lesões.
Nesse sentido, ficam alguns exercícios que se podem fazer...
Almeida, I. B. (2005). Protocolo de recuperação após ligamentoplastia O.T.O. do LCA. EssFisioOnline, 1 (2), 26-39.
Kjaer, M., Krogsgaard, M., Magnusson, P., Engebretsen, L., Roos, H., Takala, T. & Woo, S. (2003). Compêndio de medicina desportiva: ciência básica e aspectos clínicos da lesão desportiva e da actividade desportiva. Instituto Piaget: SIG.
von Porat, A., Henriksson, M., Holmström, E. & Roos, E. M. (2007). Knee kinematics and kinetics in former soccer players with a 16-year-old ACL injury: the effects of twelve weeks of knee-specific training. BMC Musculoskeletal Disorders, 8 (35), 1-10.
Os ligamentos são bandas fibrosas orientadas entre os topos ósseos que mantêm a congruência articular e impedem que haja movimento excessivo nas articulações, permitindo assim estabilidade articular. O papel do ligamento cruzado anterior é prevenir a projeção anterior excessiva da tíbia em relação ao fémur e é um dos principais ligamentos sujeitos a lesão, em desportistas.
A sua reconstrução, pretende criar uma réplica do ligamento original e o objetivo máximo da reabilitação após a lesão, é a recuperação do movimento e função, sem a manifestação dos sintomas, de forma a permitir que o atleta retome, o mais rapidamente possível e de forma segura, o nível de atividade que praticava antes da lesão (McMahon, 2007). A Fisioterapia é frequentemente utilizada após a reconstrução cirúrgica do ligamento cruzado anterior, maximizando a função e restabelecendo a amplitude de movimento, força e coordenação neuromuscular.
Durante todo o processo de recuperação, qualquer falha na reabilitação poderá comprometer o resultado final. O neo-ligamento pode até estar anatomicamente íntegro, mas ser funcionalmente ineficaz (Noronha, 2006). Apesar de 6 meses ser o período de tempo necessário (a remodelação histológica apenas se completa neste tempo) para o regresso à prática desportiva, existem casos de futebolistas que retomaram a prática competitiva antes desse tempo. O risco de recidiva, é inevitavelmente maior, qualquer que seja a evolução apresentada até ao retorno e as consequências também não são variáveis ao atleta (como dor ou osteoartrite). Deve-se sempre respeitar os prazos de recuperação.
Esta é uma lesão bastante falada e comentada em futebol. São inúmeros os atletas que já tiveram este tipo de lesão. O programa de treino deve ser coordenado de modo a que a condição do atleta seja reabilitada, com o intuito de o reintegrar nas actividades desportivas específicas, dentro do mesmo ritmo (Grodski & Marks 2008).
O futebolista, dada a natureza intermitente do seu esforço e a ampla faixa de intensidades que o caracteriza, tem de privilegiar no seu treino aspectos tão distintos como o desenvolvimento da força explosiva, da velocidade, da resistência anaeróbia e da resistência aeróbia.
Grodski M, Marks R. (2008). Exercises following anterior cruciate ligament reconstructive surgery: biomechanical considerations and efficacy of current approaches. Research in Sports Medicine; 16(2): 75-96.
McMahon, P. (2007). Current diagnosis & treatment: Sports Medicine. Pittsburgh: Lange Medical Books/McGraw-Hill.
Myklebust, G. & Bahr, R. (2005). Return to play guidelines after anterior cruciate ligament surgery. Br J Sports Med, 39(1): 127-131.
Noronha J. (2006). Lesões do ligamento cruzado anterior. Espregueira-Mendes J, Pessoa P, editors. O Joelho. Lisboa: Lidel - edições técnicas, Lda: 147-182.